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Qual a realidade da imagem hoje?

29 julho, 2010

foto? de Joana Pires

Pergunto por uma sincera dificuldade de me conformar com as definições e limites da própria palavra imagem. A imagem foi meio de expressão cultural e artística durante toda a história humana. Sua produção, por muito tempo foi envolvida em rituais, tradições, muitas vezes associadas a padrões estéticos que ressaltavam o talento nato ou o esforço físico do pintor, escultor, gravurista.

Com a invenção da fotografia, a criação de imagens se mecanizou, tornando-se uma prática simples e acessível a uma parcela bem maior da população. A produção técnica da imagem ganhou repercussão gigantesca e se sobressaiu em quantidade quando comparada às técnicas de criação de imagem já tradicionais.

O impacto da fotografia foi tamanho que fez com ela fosse capaz de, em certa medida, “tomar o lugar” de quase toda a produção de imagens anterior a ela, no momento em que a presença da obra cedeu espaço à sua imagem registrada em película, e as pessoas passaram a ter muito mais contato com a foto do quadro da Mona Lisa do que com a própria Mona Lisa. Por isso, creio ser praticamente impossível falar de imagem na sociedade pós-industrial sem falar, inevitavelmente, de fotografia.

A situação se complica quando o formato digital passa a massivamente tentar agregar toda a nossa produção cultural. É, na verdade, um processo semelhante ao vivenciado pela pintura quando ela precisou ser fotografada para fins de divulgação. Num processo praticamente equivalente, a imagem passa agora a ser digitalizada, virar código numérico, display eletrônico. Mais que isso, não depende mais sequer do aparelho fotográfico, podendo ser completa simulação, manipulação de pixels. Então, como chamar a fotografia que tem sua estrutura gráfica completamente modificada? Como chamar a fotografia que tem seus pixels apagados, substituídos, suavizados, modificados; a fotografia que se comunica através da narrativa produzida pelo movimento, a fotografia que é quase filme, como o stopmotion, ou o filme que é quase fotografia? A fotografia filmada? O filme fragmentado em frames?

Apesar dessa dificuldade, a fotografia é, sim, minha base de referência sempre que menciono a palavra imagem, não por simples predileção pelo formato, mas porque acredito que a fotografia foi a imagem que melhor se adaptou às transformações e novas estratégias impostas pela sociedade contemporânea, cada vez mais repleta de hibridismos entre mundos on e off-line.

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